25.5.11

perdidos

 Tempos desaparecidos por essas bandas, volto neste 25 de maio, dia da toalha, pra postar este texto do SerieManiacos,  que fez uma serie de textos sobre as melhores series da década, uma destas Lost, foi sem dúvida das mais marcantes, aqui é retratada num texto bem bacana. O texto contém spoilers da sexta e última temporada.

LOST por Ewerton de Freitas




E cá esta ela. Lost. Citada pelos leitores do site em todos os textos deste ranking. Você pode amá-la ou odiá-la, mas jamais ignorá-la. Atire a primeira pedra aquele que nunca madrugou fazendo maratona de Lost. Atire a primeira pedra aquele que nunca madrugou à espera de uma legenda e se atrasou no trabalho na manhã seguinte… Não tem nem discussão, Lost marcou não apenas esta década. Ela entrou pra história da TV e introduziu uma nova forma de se ver e de se fazer televisão.
Se você tem alguma dúvida da relevância de Lost, lembre-se de que o último episódio da série foi transmitido simultâneamente para mais de 59 países. Fora a galera que acompanhou pela internet. O mundo todo estava conectado no mesmo momento, independente de fuso-horário, para acompanhar os lances finais da saga dos Oceanics. Na TV a cabo, o episódio chegou em menos de 48 horas para vários lugares do mundo. Algo que há algum tempo atrás  era inimaginável.
Claro que a ‘culpa’ (de toda essa pressa em transmitir o episódio final) é dos fãs. Se as emissoras de tv não se mobilizassem, seriam passadas pra trás pela internet. Afinal, poucas horas depois de exibido um episódio nos Estados Unidos, nós podíamos  assistí-lo com uma legenda de qualidade impecável feita pelos fãs e disseminada na rede.  Legenders distribuídos em diversos estados do país trabalhavam na madrugada, voluntariamente, e em menos de três horas publicavam a legenda para quem quisesse ver.  Na mesma semana, era possível encontrar o episódio exibido nos EUA, em barraquinhas de câmelo em São Paulo.  Ou seja, um fenômeno.
Mas, como explicar este fenômeno? Sabemos que a grande massa que assiste TV gosta mesmo é do ‘feijão com arroz’, tramas simples, manjadas, heróis e vilões, histórinhas fáceis de assimilar. Como explicar, então, o sucesso de uma série tão complexa como Lost? Filosofia, física quântica, religião, ciência, fé, mitologia, enfim, um emaranhado de coisa complicada sendo abordada sem nenhum didatismo?  Um exemplo simples: Na novela ‘Passione’, Sinval pediu sua prima em casamento.  E todo mundo sabe que sexo entre primos pode resultar num bebê com algum tipo de problema de saúde, certo? Errado. Na novela das 8 (que tem todo tipo de público), um médico precisa explicar por A+B como isso acontece. Praticamente uma aula de genética com linguagem simples, pra todo mundo entender. Em Lost,  por sua vez, cita-se ‘Efeito Casimir’ e só. Você pausa o episódio e dá uma ‘googolada’. Pronto, você pode continuar assistindo. Percebe a diferença?
Não estou criticando o ‘didatismo’ das novelas, mesmo porque sabemos a realidade triste do nosso país. Mas Lost mostrou que nem sempre a tv precisa subestimar o seu público. Mostrou que uma trama complexa também pode dar audiência. Revistas, livros, jogos, fóruns na internet, todo tipo de plataforma serviu para discutir e refletir os mistérios de Lost. A chave para algumas respostas  eram distribuídas em games, por exemplo. Quantas teorias não foram criadas na rede? Era praticamente um hábito, assistir a série e correr pra internet para comentar, discutir e pesquisar as referências e citações do episódio da semana.
Um outro diferencial de Lost, pelo menos com relação às outras séries, é que ela teve o seu final planejado com bastante antecedência. Logo depois do término do terceiro ano, a ABC informou que a série iria encerrar a saga na sexta temporada.  E por que isso foi legal? Vou explicar: construir um roteiro não é fácil. Construir um roteiro com flash-backs, flash forwards, viagens no tempo, personagens interligados, temas complexos, etc,  é uma tarefa ainda mais difícil e perigosa.
Via de regra, quando você escreve um roteiro, você precisa ter toda a história pronta, arquitetada (pelo menos boa parte, o plot principal dela).  Ao longo das temporadas, muita gente chegou a dizer que Lost havia se perdido, que estavam inventando demais, que nem os roteiristas sabiam pra onde a série estava indo. Ledo engano. Conforme os episódios corriam, fui tendo a certeza de que eles sabiam muito bem o que estavam fazendo.  Fatos que haviam acontecido na primeira temporada, ganhavam significado e relevância em determinado episódio da terceira temporada, por exemplo.  A relação entre os personagens, os mistérios, tudo foi se interligando de maneira muito bem construída.
E se você tem dúvidas de que a história foi toda planejada desde o começo (quando digo isso, me refiro à trama principal, global, não me refiro à detalhes como a participação de Paulo – Rodrigo Santoro – , por exemplo), faça um exercício: Pense numa história e comece a escrevê-la. Depois mude o final, escreva outro bem diferente. Em seguida, releia toda a história. Muito provavelmente ela ficou com alguns furos e inconsistências devido à mudança do final. Isso porque uma simples mudança no fim, implica em diversas outras mudanças e adaptações no começo e no meio. Você não pode simplesmente mudar o rumo da história no meio, sendo que tudo o que foi construído anteriormente apontava em outra direção. Se fizer isso, o resultado será trágico. Heroes foi uma série que tentou brincar com viagens no tempo e você deve se lembrar da lambança. Brincar com viagens no tempo, flash backs e flash forwards exige um talento. Em Lost, se você for rever todas as temporadas, verá que tudo (ou quase tudo) estava devidamente ligado e amarrado.
Claro, existem furos em Lost, mas nada tão comprometedor que anule os seus méritos. Ficaram perguntas sem respostas? Algumas. E isto me incomodou um pouco, justamente pelo fato dos criadores saberem, bem antecipadamente, quando a série iria acabar. Eu esperava que eles utilizassem melhor os episódios para solucionar os mistérios, afinal tiveram três anos para fazê-lo.  De qualquer modo, nenhuma ciência é completa, nenhuma filosofia é completa, nenhuma mitologia é completa.  É compreensível que eles tenham preferido deixar algumas perguntas em aberto, para que cada pessoa encontre a sua própria resposta. Afinal, de onde vem Deus? Ele existe? É uma resposta pessoal. Digamos que a série respondeu o principal, o suficiente para se manter viva no imaginário do público.
De qualquer modo, vale ressaltar que a iniciativa da ABC de negociar o término de Lost foi louvável. Sabendo da complexa missão que os roteiristas tinham em mãos, a rede foi bastante correta. Se cancelassem a série prematuramente, deixariam a história incompleta, já que não haveria tempo de revelar todas as relações entre os personagens e seus mistérios. Se prolongassem, renovando-a constantemente, também prejudicaria o desenrolar da trama.
Mas, vamos falar sobre a frustração de uma parcela significativa da platéia. Eu divido o público de Lost em dois grupos principais:  Os ‘homens da ciência’ e os ‘homens de fé’. Os homens da ciência buscavam respostas empíricas e racionais para resolver os mistérios da Ilha. Este grupo era representado por Jack (o médico) e também pela Iniciativa Dharma (cientistas que realizavam estudos na Ilha e que procuravam explorar as suas propriedades especiais). Já os  ‘homens de fé’, buscavam respostas e significados místicos. Este grupo era representado pelo ex-cadeirante Locke (que vivenciou um milagre e começou a andar quando chegou  na Ilha) e também pelos Outros (os habitantes nativos e mais antigos da Ilha que procuravam proteger as propriedades especiais dela).  Ora, acontece que no final, o Médico (representante máximo dos ‘homens da ciência’) aceita e abraça a fé. Diante deste fato, a série assume que não há resposta pra tudo.  Que a ciência e a razão humana não conseguem abraçar a complexidade do Universo. Nunca saberemos de onde veio a mãe adotiva de Jacob e do Homem de Preto, assim como não saberemos a origem de Deus.  A Luz que indignou muita gente, emocionou tantas outras. Da mesma forma que alguns ateístas afirmam que a crença em um Deus é uma fraqueza, uma resposta fácil para os problemas da vida, a Luz também pareceu (para algumas pessoas) uma solução simplista para todos os mistérios que a série levantou durante tanto tempo.
No grupo de pessoas que não gostaram do final de Lost, também podemos fazer uma divisão. Uma parte do público entendeu, mas não aceitou. Outra parcela, simplesmente não entendeu direito. Muita gente se confundiu e pensou que TUDO o que havia acontecido era uma espécie de purgatório e que os personagens estavam mortos desde o episódio piloto.  ERRADO. Tudo aquilo aconteceu de verdade, eles estavam vivos.  Eles só estavam mortos nos flash-sideways (ou realidade paralela, criada na sexta e ultima temporada). Os Flash Sideways mostravam como seriam as vidas dos personagens se eles nunca tivessem caído na Ilha. É como se o Universo precisasse te contar a história da sua vida de uma outra forma, para que você compreendesse o porque e a razão das coisas terem acontecido daquela maneira. Nesta realidade paralela, as vidas dos personagens ganharam sentido e redenção. Benjamin acredita que ainda não esta pronto e por isso decide que deve permanecer nesta realidade alternativa. Os demais, caminham rumo a Luz. Seria aquilo o Céu? O Paraíso? Provavelmente. E olha que curioso, o céu não é um campo de golfe, nem um espaço verde infinito com crianças jogando bola de um lado pro outro. Na verdade, é um estado de espírito de total compreensão da vida e felicidade completa, perto daquilo e daqueles que foram importantes para os personagens durante as suas vidas. ‘Por isto estão todos aqui, você precisa de todos eles e eles precisam de você’ é o que Jack ouve de seu pai morto. Todas as situações dos flash-sideways, compõem um epílogo da saga que acompanhamos na ilha. E que saga.
Lost nos fez ler, pesquisar, refletir e calar. E, além de tudo isso, conseguiu nos emocionar.  Acredito que até mesmo os ‘homens da ciência’, sentiram um arrepio ou um marejar no olho quando todos os personagens se recordaram, entenderam a sua existência e se encontraram no fim, na ante-sala do céu. A série foi um grande jogo, um verdadeiro quebra-cabeça. Quando Lloyd Braun (então diretor da emissora ABC) solicitou aos roteiristas que criassem Lost, ele buscava uma mistura de ‘Survivor’ com ‘Naufrago’. O que J.J. Abrams e Damon Lindelof fizeram, foi muito além disto. Lost, a princípio, se chamaria ‘The Circle’ (O círculo) e este nome também lhe cairia muito bem. Embora a série termine no mesmo local em que começou, o contexto é totalmente outro. Ao abrir os olhos em meio ao bambuzal, no primeiro episódio, Jack encontrava ali a sua segunda chance. Ao cair  morto, no mesmo local, no episódio final, ele tinha plena certeza de tarefa cumprida. Em algumas palavras: Lindo, Genial, Épico! Parafraseando nosso querido Desmond: “ I ll see you  in another life, ‘brotha’!”

2 comentários:

Anônimo disse...

txt maneero e me vem a pergunta....o qnto nerd tu é?

Guthor disse...

não sou nerd, sou rock'n roll demais pra ser nerd.