18.5.07

Duas Doses

Essa semana onde o corpo me perguntava onde estavam as malditas horas vagas que ele estava acustumado a ter me senti cansado e com vontade de fugir, para algum lugar distante, talvez para um clipe do Pink Floyd ou um filme do Tim Burton...
Olho e vejo alguns entulhos de entretenimento a disposição, mais em suma series televisivas, de no maximo 45 minutos, eu precisava de mais, precisava de algo concreto, uma dose mais forte e única.
Daí que num tracker da vida, meus olhos deparam-se com Barfly, filme de Barbet Schroeder, com argumento de Charles Bukowski de 1987. Fiquei com obssessão de assistir este mesmo filme depois de ler o romance Hollywood que conta justamente os seus bastidores, mas acabei por esquecer o projeto de lado, mas não confunda com destino, dias atrás assiti Factotum – Sem Destino de Brent Hamer (que tambem é baseado na obra do velho buk) e lembrei do antigo projeto, após assistir aos filmes me senti mais completo com relação a obra do autor, aqui algumas impressões timidas dos filmes deste escritor de ocasião.

Factotum – Sem destino (2004), meu primeiro “Bukowski visual” me fez feliz ao ver o escritor marginal nas telas, Matt Dylon interpreta Henry Chinaski (alter-ego de Buk) numa odisséia suburbana, passando por varios subempregos “chinfrins” para ter algo pra beber no final do dia, se envolvendo com sujeitos de contos baratos de bancas de jornais tanto ou mais como o proprio Chinaski numa vida regada por whisky barato e mulheres de tão facil apego quanto descartaveis. O visual clean e sombrio de Bent Harmer dá ao filme uma pontuação com cores frias e tece de forma lenta as desventuras dos personagens e seus sentimentos auto-destrutivos.
Talvez quem nunca tenha lido Bukowski fique com uma má impressão do filme, por ele não retratar (e Hamer fez bem o dever de casa) a vida boêmia de um vagabundo e sim o gosto amargo de ressaca do dia seguinte. Gosto esse que quem leu Bukowski identificará de imediato.
Agora, aos que leram o velho safado talvez sintam falta de ambientes realmente sujos, dialogos nonsense-genias alá Bukowski, e retratar mais afundo o lado escritor do personagem, o filme segue bem, mas que fique claro que este mundo funcione bem melhor na prosa rebelde de Buko.
O destaque significativo é a interpretação de Chinaski por Dylon que adere aos traços bukowskianos de forma eficaz, as camisas de botões, os ombros caidos, o olhar, o modo de andar e falar retratam bem o Chinaski dos livros.
Tambem estão no elenco Lily Taylor e Marisa Tomei que desempenham muito bem papeis de mulheres bukowskianas, a conduta duvidosa ao lado da melancolia amorosa.
Podia pôr varias criticas (como a cena do encontro dele com o pai, um tanto incoerente ao retratado nos livros), mas em resumo o filme passa o que eu esperava, e mantem os momentos de silencios que são de extrema importancia na obra de bukowski e funciona quase codjuvante mas que faz uma diferença enorme, são nestes que bukowski destrinchava seus pensamentos ironicos ou seus comentarios sobre a sociedade. Li em algum lugar e a assino embaixo quando afirmo que o filme segue num ritmo lento, poetico e bebado.

Nota: Tanto Factotum – Sem Destino e Barfly – Condenados pelo vicío tem subtitulos desnecessários ( matem o individuo que vocês verem fazendo isso).

Barfly – Condenados pelo vicio (1987), depois de converter fui assitir ao filme deliciando-o, imagine-se depois de ler “Alta-fidelidade” alguem te dizer que existe o filme baseado na obra, você sabe que há uma grande chance de estragarem a obra original, mas vai ser de quase que uma necessidade “ver” tais personagens, o diferencial de Barfly é que não existe livro e sim um romance sobre seus bastidores, e diga-se de passagem um puta romance, como se o making off de uma obra “seja” outra obra.
O filme tornou-se obrigatório a seus leitores.
Assistir Barfly sem ter lido Holywood é como comer lasanha sem queijo, pode até ser bom, mas você vai sentir falta.
Barfly traz tambem como protagonista Henry Chinaski que passa pelas situações tipicas dos contos do autor, brigas com garçons, a ironia afiada, o ar debochado de quem estando no luxo ou numa sarjeta mantem a mesma pose, diferente de Factotum (apesar de um vir antes de Barfly estou analisando a medida que vi), Barfly traz um Chinaski caricaturado de Mickey Rourke, um brigão, bebado de sarjeta, que fala alto e diz frases sem contexto, não necessariamente ruim, a impressão é que é o Chinaski que todos veêm ou ao menos os que todos gostariam de ver, o romantico boêmio que nunca sabe o que irá encontrar nos inferninhos a qual frequenta.
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Ponta de Bukowski no filme
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O roteiro tem trechos de obras anteriores de Bukowski mais é em suma original e detalhe importante é a participação do proprio Bukowski como mais um que bebe no bar onde Chinaski conhece Wanda (Faye Dunaway), que apesar da critica do autor a atriz é a que mais me convenceu no filme.
Apesar do caricaturado Rourke, em alguns aspectos é o lado de Bukowski mais divertido, o de frases pontuadasde de arrogância e a de um escritor que escreve para ter o que beber. Talvez eu seja suspeito para falar, mas pra mim o filme tambem cumpre o que esperava com falhas aqui e ali (como na parte em que Chinaski nega o luxo, por se considerar um vagabundo, talvez gastasse tudo em bebida mas nunca buko abriria mão de luxo), mas nos dá uma boa ideia da maestria do submundo que o autor tanto descreveu na vida, diria que chega perto do absurdo bukowskiano (o que não é pouco) e Factotum de sua realidade.
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"Algumas pessoas nunca enlouquecem, como deve ser horrivel a vida delas"
C. B.

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