15.12.10

Impressão de Realidade

Parte da minha monografia.

            "(...) Na noite de 28 de dezembro de 1895, houve a primeira exibição do "Cinematógrapho", máquina idealizada pelos irmãos Lumiére para o estudo do movimento de imagens, Jean-Claude Bernadet nos relata uma parte do que se seguirá naquela exibição:

  Uns filmes curtinhos, filmados com a câmara parada, em preto e branco e sem som. Um em especial emocionou o público, a vista de um trem chegando na estação, filmada de tal forma que a locomotiva vinha vindo de longe e enchia a tela, como se fosse se projetar sobre a platéia. O público levou um susto de tão real que a locomotiva parecia. [...] A imagem na tela era em preto e branco e não fazia ruídos, portanto não podia haver dúvida, não se tratava de um trem de verdade. Só podia ser uma ilusão. È aí que residia a novidade: na ilusão [...] Essa ilusão da verdade, que se chama Impressão de realidade, foi provavelmente a base do grande sucesso do cinema. (2009, p.12)

Bernadet se utiliza do termo “impressão de realidade” para denotar tamanho surpresa que o público demonstrava aos primeiros anos que se seguiu o sucesso da invenção dos Lumière, esta ”impressão” também pode ser encarada pelo fascínio que o movimento levava ao espectador, a imagem em movimento, o acontecimento em frente aos olhos só podia ser encarada como “fato”, aquilo “acontecia”, pois todos os presentes na sala “viram”, como não acreditar no que os olhos lhe mostraram? Se virmos um casal se beijando, como não dizer que estão enamorados? E o assassino do presidente que o matou em frente aos meus olhos? Como não acreditar que o povo de um pequeno país não é inimigo se eles atacam os soldados que nos protegem na tela a frente? Não se pode denotar manipulação ideológica aos primeiros anos do cinema, mas as teorias de realidade caem por terra ao passo que há um propósito de um idealizador por trás.
Instrumento ideológico seria um título apropriado ao cinema que tem em seu gérmen as manobras para a fraude das imagens exibidas, tomemos algumas produções recentes como exemplo: The Rundown (2003, traduzido para o Brasil por “Bem vindo a selva”) filme norte-americano de Peter Berg, os protagonistas se encontram na Amazônia brasileira e interagindo com populares, sendo que nunca se esteve no Brasil de fato, a quem é do Brasil, logo vai saber que os nativos não se tratam de habitantes locais, nem muitos dos costumes mostrados no filme, mas espectadores de outros países como não saberiam identificar tais peculiaridades, tomam aquilo por “verdade”, ao que vale para qualquer costume de um país desconhecido mostrado num filme, outro exemplo, The Passion of the Crhist (2004, traduzido para o Brasil por “A Paixão de Cristo”) filme de produção italiana e norte-americana realizada por Mel Gibson, opta em realizar todos os diálogos em aramaico, latim e hebraico, línguas da época em que o filme retrata, muito dessas línguas se perdeu com o tempo e não fora reproduzido, mas pensemos bem, ainda que fizesse todo falado com os mesmo dizeres da época não deixaria de ser, apenas uma versão?
Os exemplos citados são apenas mostras da “impressão de realidade” dita por Bernadet que surge no começo do cinema e que evidencia o caráter ideológico que o mesmo pode apresentar, o cinema traz em seu primórdio, deslumbramento e informação, e toda informação é contada pela ótica de alguém ou de um grupo, instrumento ideológico hoje indispensável a qualquer líder nacional ou grupo empresarial, o poder influente é de acordo com nível que atinge a população, dessa forma vamos observar como o cinema vai deixar sofrer inúmeras crises, mas nunca o poder das imagens, e pensar que os irmãos Lumière chegaram a dizer que aquele invento não passava de “uma coisa sem futuro”, se tornou nos dias de hoje, arte, entretenimento e antes de qualquer coisa, propagador de idéias.
A forma a qual encaramos o cinema nos dias atuais é bem distinta da do começo do século onde o cinema apresentava outra forma de interagir com a sociedade, se definíssemos em dois momentos, antes e agora poderíamos conferir didaticamente o caráter de realista, porém pouco estruturado no começo do século e complexo e consolidado, porém incorporado a uma banalização das imagens aos dias de hoje, mas a forma como nos manifestamos pelo que tomamos por realismo, por nossa persistência retiniana, permanece em essência. (...)"

Nenhum comentário: