19.12.09

Avatar [ou] Já vi isso antes

 Estava eu na quarta fileira do cinema, com um rufles e um chá de pêssego assistindo ao novo filme de James Cameron quando *ESTALO - eu já vi isso antes - pensei.


 Eram pouco mais de 16 horas quando lembrei que Avatar, o novo filme de James Cameron estreava às 17:30, me arrumei e tirando "Bastardos Inglórios" poucos filmes me convenceram a sair de casa, incomodei-me com a molecada que o filme trazia, mas não mais do que a dublação (a qual @nizoneto incluia-se), talvez uma das piores que ja tenha presenciado em cinema... segui com meu chá gelado e minha batata as primeiras fileiras para assistir o filme, ao final da sessão ainda assimilando tudo aquilo senti-me em parte trapaceado. 

 Vamos aos fatos, James Cameron não passou doze anos (desde Titanic) pra fazer um filme qualquer, é inovador antes de qualquer coisa, nos traz um cinema criado da sua tecnologia desenvolvida, nos apresenta literalmente um mundo novo, aqui chamado Pandora, de espantar os olhos dos pingos de água nas folhas a montanha flutuante (isso mesmo), ficamos arrebatados pelo estaparfúdio criado por Cameron, mundo que vale cada centavo do ingresso pago. O que para nós é um grande filme de ficção, para a  indústria cinematográfica é uma divisão de águas, é não ter mais fronteiras entre o que é real e o que foi posto para ser, é o cinema na sua função primordial, o questionamento do que é real diante dos nossos olhos (câmeras no caso), não distinguimos o filmado e o fictício, evidente que tudo isso tem seu preço, e no caso do filme foi bem salgado (Diz-se entre 400 e 500 milhões).
 No filme convivemos em grande parte com os Na'vis, espécime humanoide do planeta, ouvimos sua respiração, vemos suas lágrimas, no mundo Cameroniano vemos a textura das plantas, dos animais, frutas feitas de pixels sendo degustadas, um mundo novo não é novidade no cinema mas da forma verossímil como aqui foi feito sim, presenciamos o que no filme indica ser a interconexão dos seres da floresta, imbutido aqui uma critica a humanidade, que está cada um por si e o mundo que se foda, dá direito até ao usb incluso dos Na'vis e as outras coisas (o que acontece se um Na'vi 1.0 quiser acoplar num 2.0?), na parte técnica o filme é sensacional, suas mais de duas horas te mantém na cadeira quietinho só talvez incomodado pela previsibilidade do roteiro que não tem nada de inovador, muito pelo contrário.

 A sensação de trapaça que me ocorreu no final da sessão foi a respeito do enrredo, há tempos não ia ao cinema, e ali pude então entender o porque, já tinha visto aquilo, nos últimos meses da década não só tinha adiado (mais uma vez) meu tcc como também mudei meu tema de pesquisa, decidi fazer sobre algo (ainda) mais próximo a mim, de movimento operário passei para cinema, o antigo cinema da minha cidade o "Cine Argus", blábláblá a parte tive que ler muito do pioneirismo cinematográfico da região e teorias cinematográficas internacionais, fiquei com um texto me martelando a semana toda desde que o li, o de Horácio Higuchi "Reflexões sobre o abacaxi ou quem engoliu Forrest Gump era infeliz e não sabia", texto que recomendo de coração mas que não vou entrar nele fundo, vale citar apenas que o mesmo me abriu a mente ante os enrredos cinematográficos, a música grudenta, apoio aos desfavorecidos, heroismo fabricado, está tudo lá para nos alienar às vezes até jogando sujo pra conseguir o que quer (esse artigo foi publicado em "100 Anos de cinema - Unama, 1995), Avatar ironicamente reinventa o modo de se fazer cinema numa história que é feita há pelo menos uns 40 anos, Pocahontas já contou essa história, alguns caracteres tinham sido explorados antes também, Ferngully, Rapa Nui, Dança com Lobos, Rei Leão, Brave Heart entre outros (até quadrinhos Marvel como diz aqui), uma cocha de retalho contada com alta tecnologia.

 
 Vale dizer que foi "Bem" contada, Cameron não nos deixa na mão apesar da história batida, até porque estamos falando do cara que fez Titanic, um épico que pelo enrredo deveria ser chato bagaraio, aquilo foi mais como uma revolução pessoal.
 De repente estava eu ali sentado, não sabendo se ria ou saia da sala, sempre me achei um bom cinéfilo, nunca saco as previsibilidades do roteiro (a menos que sejam gritantes), assisti Arraste-me para o inferno (Sam Raimi) me assustando a cada momento do filme por exemplo, mas agora parecia que senti o gosto da fórmula Hollywoodiana, como Jean-Claude Bernadet entende o cinema é feito de fórmulas, novidade é risco, e risco reflete a perda de capital, o que é impensavél nesta obra tão cara, e apesar do enrredo continuei assistindo as deslumbrantes cenas que o longa indiscutivelmente nos proporciona, lembrei de Bukowski que dizia que hollywood não fazia nada de interessante ou mesmo o Ronaldo  Passarinho que diz que o que o cinema tem de contar, já contou nos anos 70, segui pra casa com uma pizza e algumas cervejas na sacola, a quem me perguntava eu respondia que o filme era bom e recomendava, mas no meu incosciente sentia o gosto de desestruturar um pouco a fórmula, voltarei ao cinema outra vez, mas com a certeza de que vai ser mais difícil me convencerem.

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